Victor Seixas tira a máscara cênica para descobrir a própria voz em “Gesto Bruto”

Um personagem é só uma ideia de personagem até ganhar as falas e saber qual papel ocupa na trama – e, ao narrar a sua parte daquele enredo, cada um cumpre uma missão que colabora com o todo. Assim são as dez faixas inéditas do álbum “Gesto Bruto” (independente), o primeiro do cantor e compositor Victor Seixas – não por acaso, ator há mais tempo. São personagens que amam e sofrem sem limites, que dançam sozinhos na noite e sentem falta de Margareth Menezes na saída do cinema, que rodam de Kombi pelo mundo e seguram a onda de ficar no seu quadrado nesta pandemia.
O canto chegou para Victor já nos palcos, enquanto decorava o texto e encontrava um jeito de colocar o seu corpo em cena. Ele desenvolveu, na voz, uma interpretação natural. O segundo sinal está tocando. “Gesto Bruto” será lançado com show online nas redes do Teatro Prudential no dia 18 de março e chegará nas plataformas digitais no dia seguinte, 19. O show será gratuito e haverá um QRcode para quem quiser contribuir voluntariamente. Ao contrário do que anuncia o título do álbum, cada mover de músculos e tendões dessa epopéia soa delicado. Será um butô moderno, evocando os horrores do nosso agora?
“Com esse disco estou descobrindo um Victor que se expressa cantando e, ao contrário do teatro, não usa máscara, não está protegido por uma ficção. O cantor me surpreende de tal forma que nem eu mesmo sei onde vai dar”, exclama o jovem artista, autor de duas faixas e meia (uma em parceria!), a primeira delas composta em 2017. “Fiquei uns dois anos, mais ou menos, cantando bem pouco ou quase nada antes de começar a produzir o disco, o que considero hoje ter sido uma experiência inconsciente para conseguir dimensionar o tamanho da música dentro de mim. É grande. E se tornou urgente”.

Em novembro de 2019, Victor fez a residência artística Dispositivo em Obras , em Salvador. Parece que foi ali, naquele laboratório de ideias, que a vontade de gravar um disco apareceu de forma mais imperativa. “Tive tempo para olhar para as músicas, decupar, terminar algumas, criar outras, conhecer canções que me mandaram, escolher. Voltei da Bahia com o processo pegando fogo”, rebobina.
“Cantar é um exercício muito bonito e árduo de olhar para si. A voz diz tudo em sua honestidade inegável. É a alma falando. E sou apaixonado pela experiência de síntese que uma música proporciona. Você conta uma história em três minutos”. Para atualizar tanta resenha, Victor convidou Juliana Linhares (vocalista da banda Pietá, em início de um trabalho solo neste 2021) para somar na faixa-título e a Foli Griô Orquestra para encorpar os naipes de sopro e percussão de “Pista Falsa” (Victor Seixas e Vanessa Garcia), já lançada em single e lyric video, o primeiro ato desse espetáculo.
“Encruza”, uma oração, foi toda feita na terra de Caymmi, Ivete e BaianaSystem, onde Victor criou a melodia para os versos de “Margareth”. Do punhado de inéditas de Tomás Braune que ele levou para a residência artística, quatro pularam dentro do disco (“Material”, “Espaço Estático”, “Fora do Quadro” e “Gesto Bruto”), assim como “Mal de te ver” (Elisa Ottoni). Rafael Lorga, outro integrante da Pietá e diretor musical do álbum, apareceu no estúdio com o forró “Metade da Metade”, dele com Clarice Lissovsky. No fim do processo, quando estava mostrando as guias para a amiga Padu, ela botou música em “Rota em Cria”
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