Grupo Awurê celebra três anos e lança primeiro EP

Grupo Awurê celebra três anos e lança primeiro EP
Foto: Leandro Cunha

No dia 20 de janeiro, data em que celebram três anos de existência, o grupo Awurê lança seu primeiro EP nas plataformas digitais, com transmissão, às 12h, pelo canal oficial do grupo no YouTube. “AWURÊ” traz seis canções inéditas e tem como música de trabalho uma composição de Teresa Cristina em parceria com Raul di Caprio e ainda a participação afetiva e efetiva do Ogan Bangbala que, aos 101 anos, é o mais antigo Ogan vivo no país.

Tocando ritmos atravessados pelos tambores de diversas células rítmicas oriundas da riqueza do legado africano, o grupo formado por Fabíola MachadoArifan Jr., Anderson Quack e Pedro Oliveira resgata a ancestralidade e combate a intolerância com arte. 

“A arte também é alimento espiritual. Escolhemos esta data porque é aniversário do grupo e também dia de São Sebastião, o padroeiro do Rio de Janeiro. Este lançamento demostra o nosso respeito e cuidado com o público. Queremos resgatar a esperança em nós e nas pessoas que estão com a gente, sonhando e acreditando que é possível. E, apesar de tudo que vivemos no ano passado, levar uma mensagem de união e afeto, mostrando como foi a construção deste EP: de maneira coletiva, afetiva, cheia de mãos, olhos e abraços virtuais, aqueles que vamos dar presencialmente em breve”, sintetiza Fabíola Machado.

Duas semanas após visita para conhecer o quintal do grupo em Madureira, Teresa Cristina compôs a música de trabalho do grupo, que remete à sensação que ela e seu parceiro Raul di Caprio tiveram.

“O que o Awurê nos traz é de uma beleza do tamanho que a gente merece! É muito bonito ver a pesquisa que eles fazem, o cuidado que eles têm. A gente chega no lugar e tem uma folha no chão, um repertório pensado no que a gente está vendo. Estou muito feliz em saber que, mesmo na situação que o Rio de Janeiro está, existe um lugar, um grupo, uma intenção de mostrar a beleza da cultura negra. Isso é uma coisa que não dá para falar em muitas palavras. Eu só agradeço”, pontua a cantora e compositora.

Foto: Leandro Cunha

“O fim do círculo é sempre recomeço”.

O trecho de “Opaxorô”, uma das canções do EP, define bem a estreia do grupo na indústria fonográfica. “Através deste repertório, consolidamos a construção de toda nossa trajetória, pesquisa sonora e mistura de sons onde os tambores são os catalizadores dessas misturas de ritmos. Um sonho planejado, mas que teve que ser redefinido”, relembra Arifan Jr. sobre o processo do EP. “Quando pensamos em lançar o financiamento coletivo, fomos surpreendidos pela pandemia. Nós vivemos de arte, não temos empresários ou patrocínio, e tivemos que fazer muitas escolhas – uma delas foi cancelar a agenda a partir de Março/2020”.

O grupo teve, então, que mudar de estratégia. “Mas também foi um ano de muito aprendizado e de olhar o que somos não somente como grupo musical, mas também como o que construímos de conceito e identidade”, reforça Arifan sobre o álbum que traz ainda as canções “Filó”, “Oyá Oyá”, “Ponto da Cabocla da Mata” e “Pout-Pourri Samba de Roda”.

O termo ioruba Àwúré faz menção e desejo de boa sorte, bênçãos e prosperidade.

Constituído na pluralização oriunda por diversos estilos musicais como Samba, Ijexá, Jongo, samba de roda e toques de candomblé, o Awurê nasceu em janeiro de 2017, em Madureira, de um encontro despretensioso entre amigos músicos de diferentes influências, cuja trajetória se estabelece forjada na importância e na beleza de todo legado africano, onde o povo negro se sente pertencente a todo o processo. Desde então, além de uma roda de samba mensal no Quintal de Madureira , o grupo já se apresentou em espaços como Teatro Oi Casagrande, Teatro Rival, Teatro da UFF, Solar dos Abacaxis, Museu Capixaba do Negro, Prêmio Atabaque de Ouro, entre outros.

Foto: Leandro Cunha

SOBRE O REPERTÓRIO:

“AWURÊ” (Teresa Cristina e Raul di Caprio)

A música que dá título ao EP parte de um Ijexá bem valente que, com o sotaque do berimbau, chama sutilmente o eletrônico e a sanfona para entrar nessa roda de diversos sons.

“FILÓ” (Khrystal / Ricardo Baya)

Uma música “filha da terra”, como ela própria se define em sua primeira estrofe. Sua letra exalta a diversidade cultural do nosso Brasil e a parte rítmica, também bem plural, tem como destaque o samba, o Torre e o Maracatu de Pernambuco. 

“OYÁ OYÁ” (Arifan Jr. / Cley Santana)

Traz na sua rítmica um suave Ijexá que é embalado pelo vento, e traz no corpo de suas letras uma linda mensagem de resiliência e da força feminina. Termina com um toque conhecido como “quebra pratos” e uma cantiga em reverência à orixá Iansã.

“PONTO DA CABOCLA DA MATA” (Luiz Antonio Simas)

Uma música em exaltação às matas, com os tambores bem explorados e ritmado no toque Congo, flertando, no final, com o samba de caboclo do Rio de Janeiro. 

“POUT-POURRI SAMBA DE RODA” (Fabiola Machado / Arifan Jr. / Cláudio Gamela / Daniel Delavusca)

Não poderia faltar o bom samba de roda, com aquele sotaque bem baiano, que faz o quintal do Awurê pegar fogo, além de sambas de roda baianos e cancioneiros populares centenários.

“OPAXORÔ” (Raul di Caprio)

Fechando o EP, um ijexá em reverência a Oxalá anunciando que “o fim do círculo é sempre recomeço”. No término, cânticos das cerimônias do candomblé com a participação de Bangbala, o Ogan mais velho do Brasil.

Ah! E para você ficar ainda mais conectado com a arte e com todo axé que o grupo Awurê emana, basta seguir o perfil deles nas redes sociais e saber em primeira mão das novidades 😉

Cristiano de Jesus

Eu, comunicador e sonhador, filho da Dona Rosa e do Sr. João que, enquanto admiro às belezas da vida, ouço boas histórias e muitas músicas para criar a minha própria trilha sonora.

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