A essência da curadoria musical com Michelly Mury

Olá, estou de volta com mais um bate-papo maravilhoso. Desta vez, tive a honra de conversar com a empreendedora criativa Michelly Mury. Ela é CEO da Alfazema , empresa que trabalha inclusão e diversidade através da cultura. Atua também como coordenadora artística da Casa Natura Musical e como curadora dos Festivais TOCA, Pipoca, dentre outros projetos incríveis.
Neste papo, Michelly fala sobre sua essência musical, sobre o que de fato é curadoria, a importância dela, e o que você precisa saber para ingressar nesta área e ser um profissional incrível. Também compartilha que artistas não saem de sua playlist, apresenta artistas/coletivos que – se ainda não conhece – você precisa conhecer e, para aquecer nossos corações, revela quais álbuns lhe “abraçaram” forte neste período de distanciamento social. Sem mais, fique com a entrevista abaixo 😉

Feitos De Música > Em primeiro lugar, eu quero saber qual a sua relação com a música, o que a música significa para você?
Michelly Mury > A música é a minha melhor e mais presente companhia. Através dela eu construí a minha carreira, a minha visão de mundo e um espaço de encontro com a minha identidade. Sou muito, muito grata a tudo que a música me proporciona.
Feitos De Música > Influências (de pessoas / artistas que você admira e exercem influências em seu trabalho como criativa na Alfazema)
Michelly Mury > Leci Brandão, Luedji Luna, Teresa Cristina, Tássia Reis, Sade, Lauryn Hill, Liniker, MC Tha, Lisa e a Naomi do duo Ibeyi, Mayra Andrade, Lia de Itamaracá, Elida Almeida, Nina Simone, Elza Soares, Jup do Bairro, Beyoncé, Solange, Linn da Quebrada, Clementina, Jovelina, Dona Ivone Lara… Olha são tantas referências criativas que diria todas rs. Eu adoro conhecer as pessoas, suas vivências e narrativas. Admiro toda a cadeia produtiva da música: compositores, artistas, instrumentistas, produtores, técnicos, roadies, assessores… todos que se envolvem e estão ajudando a construir e perpetuar a nossa cultura.
Feitos De Música > Do seu ponto de vista, o que significa curadoria, como se dá o processo de curadoria musical e a importância da mesma?
Michelly Mury > Curadoria pra mim é conhecer as almas por trás da arte, metaforicamente ou não. E é a partir desse conhecimento que eu me inspiro e crio pautas e encontros artísticos. A importância dela é criar pautas que sigam uma narrativa, que se utilizem de temáticas, efemérides ou até mesmo da vontade de dois ou mais artistas que se gostam dividirem um repertório, com o nosso auxílio.
Feitos De Música > Você é coordenadora artística da Casa Natura Musical, espaço que recebe o naming da empresa que promove há 15 anos um edital público de incentivo a música. Este ano houve uma reformulação no edital, e você fez parte do time de cocriação com a empresa. Como foi participar deste processo e que critérios foram necessários para escolher as novas categorias incluídas?
Michelly Mury > Sim, foi uma honra e um grande desafio participar desse processo. A Natura juntou um time incrível de profissionais da cultura e eu fiz parte junto com a Suyanne Keidel, diretora executiva da Casa Natura Musical. A proposta foi discutir formas de ampliação do alcance do edital, através de novos territórios e narrativas.
Naturalmente critérios como capacitação e formação, fomento e expansão territorial, representatividade e acesso tanto nos projetos quanto nas fichas técnicas, saltaram na nossa busca por um mundo mais bonito através da música.

Feitos De Música > Você atua como curadora de diversos projetos, dentre eles: Festival TOCA, PIPOCA, e esteve recentemente no Superjúri do Prêmio Multishow. O que é preciso sempre levar em conta quando se participa de projetos singulares como estes?
Michelly Mury > No caso de curadoria em shows e festivais eu busco sempre entender o contexto pra melhor adequar os artistas as propostas. Gosto muito de reverenciar a nossa memória e, também trazer a tona novos talentos. Em escolhas como jurada de editais e premiações como foi o caso do Supejuri, procuro equilibrar os critérios de qualidade artística e relevância cultural ao tanto de emoção que aquela determinada obra e/ou artista me desperta.
Feitos De Música > Se este ano de 2020 pudesse ser resumido em uma música ou álbum – que te confortou, acolheu neste período, qual seria este som / trabalho e por quê?
Michelly Mury > Veja bem, eu me amparei em muitos discos, canções, lives e álbuns visuais pra superar a falta da minha rotina de agito cultural. Até 13 de março desse ano eu frequentava uma média de cinco a dez shows por semana.
Eu diria que o álbum AmarElo do Emicida é um dos que sempre reforçam a minha esperança na recuperação da sociedade atual através do amor.
Tem também O Amor é um Ato Revolucionário do Chico César, “Corpo Sem Juízo” da Jup do Bairro… um só é impossível, tá vendo…rs?
Feitos De Música > Curadores são pessoas que encontram, organizam e compartilham conteúdos (próprios ou não) de forma única, autêntica e espontânea porque se identificam e curtem compartilhar. Mas esta atividade pode vir a ser remunerada, que dicas você daria para quem deseja se ‘especializar’ nesta área e conseguir monetizar esta atividade?
Michelly Mury > Eu acho que pra ser um bom curador você precisa adquirir muito conhecimento sobre a área que você quer atuar, além do geral. Isso vai ampliar a sua visão de mercado. Acho fundamental acompanhar e seguir atento aos trabalhos e lançamentos dos artistas, sejam eles novos ou consagrados, acompanhar os line ups de Festivais, as pautas das Casas de shows, das playlists dos players, os últimos lançamentos no Youtube.
Feitos De Música > Toda semana apresento – Novos Singles – curadoria, lançamentos de artistas independentes com intuito de ampliar o alcance de suas artes. Contudo, sinto que ainda há resistência da maioria das pessoas em ouvir música de artistas que ainda não estão no mainstream. Por que você acha que isso ainda acontece e qual a sua sugestão para furarmos esta bolha?
Michelly Mury > Concordo e acho que é uma soma de fatores, mas em linhas gerais, somos turbilhados com muitas informações o tempo todo então me parece natural que a tendência seja fazer uma triagem incluindo o que você já conhece.
Acho que os artistas precisam formar cenas pra potencializar o alcance do seu trabalho, sabe o esquema um puxa o outro? Acho que é um bom caminho.
Feitos De Música > Cite até três profissionais do universo musical: curadores, jornalistas ou produtores de conteúdos que devemos conhecer e acompanhar o trabalho de perto para expandir nosso conhecimento.
Michelly Mury > Laboratório Fantasma – @lab_fantasma
> AUR – @ aur______
> Mahmundifm rádio ao vivo 🎧 sexta – sábado as 22h em @mahmundi e twitch.tv/mahmunditv
Feitos De Música > Compartilhe conosco três artistas que não saem da sua playlist e mais três artistas independentes da nova geração, que você tenha descoberto recentemente que esteja gostando do som.
Michelly Mury > Não saem da minha playlist: Baiana System, Emicida e Luedji Luna
Novos: Jonathan Ferr, Luthuly e Urias
Uau! Que delícia de bate-papo! Espero que você tenha curtido conhecer um pouco mais da Michelly Mury , sobre seu trabalho e todas as dicas que ela deu sobre curadoria musical. Sem falar nas referências musicais, álbuns e artistas para você ouvir, conhecer e acompanhar o trabalho.
Abração e até a próxima,
Cristiano De Jesus