Victor Mus coloca todo seu talento e criatividade à prova durante a quarentena

Victor Mus coloca todo seu talento e criatividade à prova durante a quarentena

O mês de maio se inicia trazendo este bate-papo cheio de essência musical, referências criativas e estratégias de comunicação com este artista multimídia, que vem despontando cada vez mais no cenário musical como um dos representantes da nova MPB. Victor Mus é ritmo, criatividade e poesia. É talento no sentido mais puro da palavra. Sem mais, fique com a entrevista abaixo.

Revista Feitos De Música > Minha voz (fale da sua essência musical, o que te inspira a cantar)

Victor Mus > Bem, eu canto desde garoto, né? Quando eu era moleque, mesmo antes de começar a tocar, eu costumava imaginar que era de alguma banda, tomava banho fingindo que tava num show, essas coisas. Então, assim, música sempre fez parte da minha vida. E aí, aos 13 anos, eu ganhei um violão e comecei a tocar. Foi uma coisa bem na hora: ganhei o violão e já comecei a fazer música e a tocar, fazer shows com alguns amigos. Logo em seguida, já comecei a compor, participei de algumas bandas, até que acabei caindo no projeto solo posteriormente. Comecei no rock e hoje to na música brasileira.

Mas enfim, o que me inspira a cantar é a vida mesmo, são as minhas experiências, as experiências alheias, a realidade como um todo. E uma vontade de, sei lá, dar uma suavizada nessa realidade. Passar minha visão pras pessoas de uma forma poética.

Victor Mus pelas lentes de Zeca Vieira | Miguel Moura

Revista Feitos De Música > Influências de artistas e estilos que você curte

Victor Mus > Olha, as influências são muitas. Porque elas são muito ligadas às épocas em que eu me encontrei na música. Então assim, se eu for falar da forma de fazer riffs e refrões, eu peguei muito do pop punk que eu ouvia quando era garoto. Aquelas bandas de rock tipo Blink 182, essas coisas. Eu gostava da forma que eles faziam os refrões que pegam as pessoas e eu tento trazer pra minha música.

Mas pensando na construção das música hoje, eu me inspiro muito em música brasileira mesmo, principalmente na forma de compor do Chico César, a forma que ele coloca a métrica também. Entre outros artistas, como Gilberto Gil, Lenine… Ultimamente, eu tenho ouvido bastante Clube da Esquina, Milton, Lô Borges. E também coisas de fora: tenho ouvido muito Fela Kuti. Então tem um pouquinho de cada coisa.

Revista Feitos De Música > Carreira o que está fazendo, onde, como, dá para viver de música?

Victor Mus > Por enquanto, tenho 2 EPs Lançados: Chão de Terra e Meus Nós, e alguns clipes também: Preguiça, Castelo e Vapor. Recentemente, também lançamos 2 vídeos de músicas inéditas, gravados ao vivo no show que fiz no Circo Voador em janeiro, abrindo pra Vanessa da Mata: “Cheiro de Pão” e “Qualquer Chão é Caminho”. No momento, estamos focados em produzir conteúdo nas redes sociais e ampliar a base de fãs, espalhando e divulgando meu último EP, levando esse trabalho aos ouvidos que ainda não conseguiram ter contato com ele.

Infelizmente, boa parte do planejamento de divulgação desse trabalho foi interrompida por conta do coronavírus. Lançamos o EP no fim do ano passado e esse ano a gente ia começar a fazer os shows, estávamos com uma turnê sendo preparada com alguns shows já fechados pelo Brasil. Então agora estamos buscando ampliar esse alcance pela internet mesmo, produzindo conteúdos e organizando o repertório pra, quem sabe, lançar alguns singles novos ainda esse ano. E já começando a planejar o grande lançamento, meu primeiro álbum cheio, pra 2021 ou 2022, ainda não sabemos. 

Infelizmente, ainda não posso dizer que dá pra viver de música, principalmente na música independente… a gente sabe como o mercado é difícil, mas estamos nos organizando e criando as estratégias pra ser possível em breve.

Revista Feitos De Música > Você participou de alguns festivais online super bacanas que surgiram no início deste período de distanciamento social para levar um abraço através da música para os fãs. Como foi esta experiência para você?

Victor Mus > Foi uma experiência diferente porque eu nunca fui muito de live, nunca gostei muito. Sempre preferi o ao vivo, o contato com as pessoas. Mas foi interessante poder estar em lineups com artistas tão grandes, só que cada um da sua casa. Uma coisa meio louca e difícil de entender pra gente que é artista e acostumado com o palco. Mas fico feliz, principalmente por estar nesses incentivos que sobressaíram pra mídia e juntaram artistas do Brasil inteiro, de diferentes experiências e tamanhos. Mas o principal foi poder levar um afago para as pessoas, não só para os meus fãs, mas pros fãs dos outros artistas e a todos que estavam acompanhando. É muito legal poder usar a arte pra contribuir de alguma forma nessa situação.

Victor Mus, no Circo Voador por Zeca Vieira

Revista Feitos De Música > Enquanto a gente não sabe “como será o amanhã”, precisamos focar no hoje e buscar cada vez mais soluções para nos mantermos sãos e criativos neste período que estamos atravessando, e você está fazendo isso muito bem. Conta pra gente como está sendo criar e manter os quadros #videoaula, #diariodecomposição e #livescomconvidados – este último em especial, eu adorei a ideia de criar após o bate papo uma música baseada nos insights da conversa.

Victor Mus > Olha, são quadros que a gente tá criando e vem sendo uma experiência bem legal. Estou aproveitando esse tempo para produzir bastante e produzir coisas diferentes do que eu produzia. Até esse lance de mostrar essa parte de como eu componho, poder apresentar amigos e amigas pro meu público, compor através de coisas ditas por eles, trazê-los pro meu processo de composição, no caso das lives.

Já as videoaulas são legais pra poder mostrar pras pessoas como é tocar minhas músicas e acabar fazendo com que elas circulem ainda mais. Ao mesmo tempo, criar esses conteúdos também é um processo de autoconhecimento, reconhecimento, exploração dos meus limites e é meio que um projeto de subsistência, né? Porque a gente precisa seguir se reinventando, criando e mantendo o público interessado.

Tô fazendo isso pelo público e por mim. Para manter o público ali e também pra poder me manter são, produzindo, me sentindo vivo. São coisas que a gente tá experimentando e de repente vamos seguir fazendo depois dessa fase de quarentena porque o resultado tem sido bem legal.

Voltei a escrever também, tô escrevendo e publicando contos com uma certa regularidade, uma coisa que eu gosto muito de fazer, mas nunca explorei dentro da carreira Victor Mus.

Revista Feitos De Música > Você tem conseguido se desconectar, respirar e fazer coisas que não fazia há bastante tempo, e ou tendo a oportunidade de aprender algo novo?

Victor Mus > Olha, me desconectar, não. Porque como a carreira exige que eu esteja online e eu meio que tenho uma necessidade de me informar o tempo todo, eu não tenho conseguido me desconectar. Mas estou conseguindo ficar mais em casa, aproveitar mais a vida de artista mesmo: poder compor, criar, tocar, assistir filmes, vídeos, ler, me inspirar. Então, tenho conseguido fazer essas outras coisas que eu não fazia há muito tempo, mas desconectar, não.

Revista Feitos De Música > A gente sabe que a vida de artista muitas das vezes é instável, principalmente para artistas independentes. E neste atual cenário de reclusão, sem poder fazer shows fica ainda mais difícil se viver de música. Neste momento, como parceiros e fãs podem ajudar seus artistas do coração?

Victor Mus > Acho que a forma que não só parceiros e fãs podem ajudar, mas todo mundo que é entusiasta da minha arte, de qualquer arte (principalmente independente), é:

Se você tem possibilidade, pague assinatura de um Spotify Premium, Deezer, ou algum outro, e ouça por lá. Isso é importante e é uma das formas que temos de monetizar. Ouvir streaming remunerado é muito importante.

Se você não tem essa possibilidade, dê like, compartilhe, sempre colabore com qualquer conteúdo que qualquer artista independente venha a postar ou criar. Curtir, comentar, compartilhar, salvar, interagir de todas as formas possíveis é importante porque você ajuda em números, então remunera a gente com audiência, nos ajudando a chegar em outras pessoas. Acho que é isso, ouvindo no streaming, seguindo, compartilhando, já são formas de ajudar.

Revista Feitos De Música > Seu último álbum “Meus Nos” é uma delícia de se ouvir, de uma brasilidade apaixonante. Adorei o feat com a Illy na canção “Que Sorte a Minha”. Como foi o processo criativo deste álbum?

Victor Mus > Primeiro, fico muito feliz que tenha gostado! Esse álbum foi parte de uma programação que a gente fez, de um planejamento mesmo. No fim de 2018, fui um dos artistas selecionados para um projeto da FIRJAN SESI, o Novos Talentos da Música. Dentro dele, produzimos a música e o clipe de Vapor e, a partir dessas produções, haveria uma votação entre os artistas do projeto, com os vencedores ganhando patrocínio para um EP. Enfim, não tínhamos nenhuma outra programação para 2019 que não fosse ganhar o projeto e conseguir fazer esse EP. Nos articulamos e conseguimos vencer por voto popular, foi uma experiência incrível de mobilização de público e uma super oportunidade passar por esse projeto. Iniciativas desse tipo são fundamentais para os artistas em início de carreira.

Então foi isso. A gente fez um planejamento e buscou seguí-lo, tudo com muita antecedência, para conseguir viabilizar esse projeto. O “Meu Nós” foi mais um fruto de uma estratégia e de trabalho bem feito do que um processo de brainstorm, uma criação espontânea. Foi um planeamento que a gente mirou em ganhar, focamos em atingir o máximo de pessoas, atingir o máximo de votos e conseguir fazer tudo que a gente pudesse pra realizar esse trabalho.

Esse é um trabalho bem diverso e as faixas do EP foram criadas em momentos bem diferentes da carreira. Porto Seguro, por exemplo, foi escrita bem próximo da gravação e foi escolhida aos 45 do segundo tempo. Coragem foi escrita, sei lá, em 2017 ou 2016, Que Sorte a Minha foi escrita no início de 2019. Mas enfim, em relação ao processo criativo, posso dizer que foram muitas horas de pré-produção ouvindo referências, experimentando arranjos e discutindo muito as possibilidades. E a brasilidade era peça fundamental pra esse EP, então buscamos muito trazer as raízes populares da música brasileira pra dentro de uma linguagem bastante pop, que é minha característica.

Ouvimos coisas incríveis, de ritmos folclóricos como maracatu, ijexá, congada mineira, a canções super contemporâneas e fomos criando esse grande caldeirão de referências.

E trazer a Illy pra dentro sempre foi um dos objetivos. Eu já adorava o trabalho dela e assim que compus “Que Sorte a Minha”, concluímos que precisávamos de uma intérprete à altura dela pra trazer a essência da baianidade pra faixa.

Fiquei muito feliz que ela topou, o resultado ficou lindo.

Revista Feitos De Música > O que é ser Feito De Música para você?

Victor Mus > Cara, ser feito de música pra mim é algo muito natural porque eu sempre vivi a música, sempre gostei de música, sempre falei de música, sempre sonhei viver de música. Então, assim, pra mim ser feito de música é ser quem eu sou, é meu estado natural de espírito. Eu acordo assobiando, acordo cantando, tomo banho cantando, vou pra rua ouvindo música, volto, canto, toco violão. Se eu estou nervoso, triste, feliz, tudo, qualquer coisa, tô cantando. E tocando violão, que é meu remédio pra todas as doenças. Então ser feito de música é ser quem eu sou mesmo. Pra mim é acordar, tomar café da manhã, ir na rua, voltar, ir ao mercado, música tá nas menores e maiores atividades.

Revista Feitos De Música > Me apresente, indique até três músicos/bandas que você curte, que acha que galera vai gostar de conhecer 😉

Victor Mus > Posso indicar 4? rs

P O D E Victor! Aqui você que manda hahaha

Victor Mus > Primeiro, o Gustavo Fagundes, artista aqui do Rio que está lançando um single novo nessa sexta (1/5) e é um cara incrível com um trabalho igualmente incrível. Aqui no Rio, outros dois artistas parceiros que vale a pena ficar de olho são a Dora Toiá, que está prestes a lançar um disco lindo, e o Malize, que também está com um trabalho engatilhado, um EP. Esses dois últimos têm produção do Rodrigo Vidal, que também produziu meu EP e é um dos principais produtores musicais do Brasil. Por último, eu queria indicar o Jota.Pê, artista de São Paulo, que lançou singles incríveis recentemente e vale muito conhecer.

Chegamos ao final de mais um bate-papo com este artista incrível que é o Victor Mus. Para você ficar ainda mais por dentro de tudo que ele está criando por ai, basta seguir o perfil dele no instagram > @victormusoficial e se inscrever no canal dele no Youtube. Falando em Youtube, dê play agora para você ouvir “Qualquer chão é caminho” , uma das inéditas que foi gravada no início deste ano no Circo Voador.

Victor Mus, “Qualquer chão é caminho” no Circo Voador

Abração,

Cristiano De Jesus

Cristiano de Jesus

Eu, comunicador e sonhador, filho da Dona Rosa e do Sr. João que, enquanto admiro às belezas da vida, ouço boas histórias e muitas músicas para criar a minha própria trilha sonora.

2 comentários sobre “Victor Mus coloca todo seu talento e criatividade à prova durante a quarentena

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